Eu olhava fixamente para o nada, sendo tomada pela despreocupação em que eu me via naquele ambiente, aquela festa de adulto com mesas que serviam bebidas e tudo mais, e eu ali vendo o tempo passar. Todos estavam sentados em fileira naquela espécie de muro do salão de eventos - que mais parecia degraus na parede -, e por um momento quase me esqueci os meus amigos ali.
Eu sentia a inquietação de Nicolas ao meu lado, mudava a sua mão de lugar como se tentasse apoiar-se da melhor maneira ali, e também me acomodei para dar espaço a ele. Eu também sentia aqueles olhos dourados em mim, como se tentasse me filmar do melhor ângulo com eles, mas eu não me virei para olhá-lo, eu era covarde demais para aguentar novamente o meu nervosismo assim que eu sustentasse o meu olhar no dele.
Meu pensamento desligou-se por um instante, assim como de todos os meus amigos ao meu lado, eu estava no extremo oposto com Nicolas, só eu e ele na esquerda, e os outros enfileirados à direita.
A festa estava no fim, ali estava chato.
Todos estavam entediados esperando alguma animação, mas a voz do homem que comandava a animação dos mais velhos cantando aquela música incessante e monótona estava ferindo os meus ouvidos.
E então, de repente, sinto-me eletrizada dos pés a cabeça, como um choque elétrico sutil, e um calor envolvendo a minha mão esquerda que estava apoiada ao lado da minha perna, entre Nicolas e eu. Olho por impulso para ele, e Nicolas expõem um sorriso lindo e encabulado; sua mão estava sobre a minha e então, quase automaticamente, começo a sorrir, enrusbecida. Era a primeira vez que eu sentia a mão dele, que eu sentia a sua pele na minha.
Quando ele percebe que a sua atitude repentina não me causara mal algum, ele acaricia a minha mão levemente e em seguida a aperta muito forte. Eu não sabia o significado daquilo, era como se ele estivesse verificando se era mesmo verdade que as suas mãos estavam nas minhas.
Olhei para os lados para ter a certeza de que ninguém estava nos olhando naquela bolha particular, mas todos ainda estavam entorpecidos com a música contagiante da festa. Nicolas ameaçara tirar a mão, e, sem perceber, eu a segurei para que ele não deixasse minha mão sem o seu calor novamente. Era bom.
E eu sorria à toa, não percebia mais o que havia ao meu redor; sentia algo inexplicável em todo o meu corpo, frio, choque, calor... Sentia o fluxo de adrenalina em minhas veias, eu suava frio. Eu virava o meu rosto e olhava para ele. Ele sorria. Nicolas pegou minha mão e entrelaçou na dele, elevou ambas para perto do seu rosto - com a minha virada para ele - e a beijou delicadamente.
Sinto meu rosto virar um tomate bem vermelho.
Assim que ele percebe o meu estado, ele diz:
- Descupe - e sorri.
E foi então que eu percebi que seu rosto também estava mais rosado do que eu estava acostumada.